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Ardil 22 – Os Conflitos Insolúveis

A vida é uma eterna busca de equilíbrio entre o exercício de vontades.

 

O que a criança pede X o que os pais determinam

O que os alunos querem X o que o professor pondera

O que o amigo X deseja e o que o amigo Y acha melhor

O que meu amor anseia X o que me faria mais feliz

O que marido e mulher gostariam de fazer X o que a conta bancária permite

 

E vamos pela vida agora equilibrando gangorras, para que um não se revolte em perder sempre, o outro não prevaleça 100% das vezes. Porém nem sempre essa matemática funciona.

Existem questões que desafiam tanto a lógica como a boa vontade e situações para as quais não há uma resposta fácil pronta, prendendo-nos em conflitos aparentemente sem solução.

Em inglês existe uma expressão chamada ‘catch 22’,ou Ardil 22  que serve para determinar uma ação que invalida a si mesma. No exemplo clássico do livro onde esta expressão foi cunhada, um piloto pretende fazer uma avaliação para provar que não tem condições de voar, no entanto o ato em si de buscar uma avaliação prova sua sanidade.

Vejamos o caso de Marina e Antonio, que se amam, mas não conseguem chegar a um consenso sobre ela trabalhar fora. Antonio alega que Marina deve ficar em casa e cuidar das crianças enquanto ele provê o lar, mas Marina não tem temperamento doméstico e após 8 anos em casa está entediada e deseja voltar ao serviço. Antonio alega que eles não têm dinheiro para pagar uma babá e que Marina está desatualizada e precisaria fazer um curso antes de voltar ao mundo coorporativo, e que ainda que volte viverá estressada como ele, e as crianças ainda sendo pequenas precisam mais da mãe do que as empresas de uma nova funcionária desatualizada.

Antonio no fundo sente ciúmes e insegurança quanto a Marina voltar à vida de antes, de solteira como quando ele a conheceu, mas jamais admitirá isso, e tendo uma família e se propondo a arcar com as responsabilidades sozinho, por amor ao que conquistaram juntos, ele também se ressente de que Marina prefira ‘a vida lá fora’ do que o lar.

Marina por sua vez sabe qual o problema real de Antonio com relação à sua volta, e pensa que acusá-lo daquilo que ele não admite não levará a nada além de discussões infrutíferas, pois os argumentos que ele usa (custo benefício de se pagar uma babá ou um curso de atualização profissional) são de fato válidos, e é portanto melhor continuarem ambos falando apenas das questões práticas que envolvem sua volta ou não ao trabalho. Ela também acha que voltando ao trabalho poderá finalmente demonstrar a ele que nunca foi necessário sentir ciúmes, pois ela o ama e não busca outra pessoa, busca apenas a si mesma. Marina se frusta com a incompreensão de Antonio sobre a realidade da vida doméstica, ela ama os filhos mas acha entediante passar dia após dia apenas cuidando do lar e ainda nutre o sonho de se realizar profissionalmente.

“O ano que vem, veremos” – ele diz. E Marina espera.

As crianças já estão com dez e 8 anos e agora Marina decidiu que vai, mas Antonio tem a chance REAL de uma promoção que pode melhorar a vida de toda família, inclusive pagar o tratamento da mãe de um deles que está bastante doente. Ele lhe pede que espere mais um pouco, e entre a pesagem das prioridades, Marina mais uma vez se põe a esperar.

2 anos depois, os sogros adoecem e Marina precisa cuidar, não pode parar para estudar…

Mais 4 anos se passam e as crianças já se viram sozinha mas a própria Marina já não confia mais em si, tanto tempo se passou e ela sabe que o mundo coorporativo mudou. Muitos dos seus colegas – com os quais ela por anos sonhou em reencontrar e retomar o convívio no ambiente profissional –  já se casaram e estão no mesmo ponto em que ela se encontrava 18 anos atrás, aprendendo a definir as prioridades entre fraldas e mamadeiras.

O que mais dói em Marina é ouvir Antonio falando das colegas de trabalho que ele admira: a gerente que todos adoram, a consultora recém contratada com seus cinquenta cursos de especializações, mestrados e phds, segundo ele, “uma mulher elegante e eficientíssima, sem a qual a empresa afundaria”.

Marina sabe que ela poderia ser essa mulher se tivesse tido a chance…

O que mais dói em Antonio é ver que seu esforço pelo lar não é reconhecido, Marina está sempre insatisfeita, a casa não é um oásis, seu refúgio do guerreiro como ele tanto sonhava, Marina não consegue gerenciar nem os próprios filhos, quanto mais uma equipe de trabalho,ainda por cima tornou-se desleixada, não demonstra vaidade como as esposas de seus amigos.

“Ela não tem noção dos sacrifícios que ele tive de fazer por todos, para manter a família…”

Nem Antonio tem noção de que Marina sacrificou apenas tudo pelos mesmos motivos.

Se Marina for estudar ela sabe que dificilmente conseguirá uma colocação, também sabe que sua principal motivação não era apenas o dinheiro e sim o retorno ao convívio com amigos, a possibilidade de ter uma “realização”, algo do qual pudesse se orgulhar e comentar nas reuniões de família ou nos jantares na casa de amigos, onde Antonio entusiasticamente cita os avanços no trabalho, quando ela não suporta ficar na rodinha de conversas das dondocas que só falam de futilidades. Marina quer voltar a falar de assuntos profundos, como conversava com Antonio antes de eles se casarem.

Mas agora seus antigos amigos estão em fases diferentes de vida, e se ela decidir fazer um outro curso apenas pra sociabilizar, Antonio, que tem uma visão excessivamente prática e objetiva sobre tudo irá alegar que agora eles têm uma condição financeira que não necessita ela ir trabalhar. “Se ela quer estudar pra quê, por que não sai com as esposas dos seus amigos? Com certeza se quer conhecer outras pessoas, em boa coisa isso não vai dar… Pra que mais amigos se já têm tantos? Se nunca se deu com esses, de que adianta procurar outros? Ah… Marina não sabe mesmo o quer! Vive insatisfeita com tudo”

Ambos têm muitas reclamações a respeito da inflexibilidade do outro. Mas nenhum dos dois almeja se separar, pois quando existe uma conexão de alma, ainda que a sintonia esteja temporariamente ‘com defeito’, um não deixa de validar em parte o ponto de vista do outro, ainda que esse ponto de vista o desgoste. Ambos valorizam o fato de que o outro “está ali”.O outro não foi embora, não abandonou o barco. Ambos seguem lutando juntos, mesmo sem saber ao certo onde vão chegar, mas pretendem chegar JUNTOS.

É preciso um olhar amoroso para compreender todas as questões envolvidas, ir ao cerne delas e de fato poder auxiliar esse casal a encontrar em suas soluções, que com certeza não serão as fórmulas prontas dos terapeutas de internet que resolvem tudo com uma frase de efeito do tipo:

“Se este relacionamento está te fazendo infeliz, é melhor procurar outro”.

“Homem/Mulher é como biscoito,vai um vem dezoito”

“Senão te valoriza, não te merece”

Só quem não viveu de fato um amor e se comprometeu com as consequências naturais de se formar uma família fala uma coisa dessas.

A vida não é um meme do Facebook e uma visão verdadeiramente profunda nos revela que não há culpados únicos em uma relação, tudo é uma conjuntura de fatores cujo balanceamento é muito mais do que uma técnica, é uma ARTE.

Marina e Antonio precisam enxergar que existe um aparente conflito entre aquilo que chamamos no Xamanismo de “Essência” na relação. Apesar de se amarem, cada um espera do outro um comportamento padrão que possa lhe garantir segurança e também um alto nível de satisfação pessoal. Nenhum dos dois percebe que ambos estão vivendo fora do seu próprio ritmo, da sua essência, num acordo mudo em prol de algo que julgam ser primordial para a continuidade da relação. Ao se afastarem da sua essência, sobrecarregam ao outro suas frustrações.

No Xamanismo aprendemos a revisitar padrões de relacionamentos, obrigações, família, masculino, feminino,e principalmente da Criança Interior ferida, que tanto interfere nas relações conjungais.

Especificamente falando do Xamanismo Estelar, situações onde uma ação é bloqueada por outra que traz danos igualmente desagradáveis ou indesejados, a única saída é “sair da roda do hamster”.

Aquele circuito já conhecido não tem solução. Se tivesse um dos dois já teria achado. A essência de ambos não pode ser modificada nem anulada eternamente sem um custo muito alto, que é a desidentificação profunda. O que resta fazer é mudar a perspectiva e buscar um olhar ‘uma oitava acima” das situações.

Se você deseja aprender a fazer isso na prática, conheça nosso curso aqui:

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E você, daria a Antonio e Marina uma nova chance?